Epigrama n. 2 És precária e veloz, Felicidade. Custas a vir e, quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas. Felicidade, és coisa estranha e dolorosa: Fizeste para sempre a vida ficar triste: Porque um dia se vê que as horas todas passam, e um tempo despovoado e profundo, persiste. — Cecília Meireles
Essa foi a pergunta que me fiz no momento em que decidi voltar a escrever e tentar — mais uma vez — ser bem-sucedida. Não sei exatamente de onde a pergunta veio, ela apenas surgiu na minha cabeça no momento em que eu estava quase clicando em “cancelar” enquanto criava uma conta no instagram (e até se tornou meu primeiro post). Ela surgiu assim do nada e me paralisou por um instante, fiquei pensando a respeito e ao fazer isso logo comecei a fantasiar sobre todas as maravilhas que aconteceriam se as coisas dessem certo dessa vez.
Acho curioso como a gente tem medo dessa pergunta, não é? Não estamos acostumados com ela. Apesar de sermos seres pensantes e sonhadores, tendemos a sempre duvidar de tudo, inclusive de nós. Tendemos a acreditar que o outro sempre fará melhor e, já que o outro faz melhor, ele merece todo o sucesso e você não. A insegurança é tão presente na nossa vida desde que nos entendemos por gente que a ideia de que ela não esteja lá sussurrando coisinhas maldosas no pé do nosso ouvido parece até cômico.
Mas essa simples pergunta me fez começar a enxergar a vida de outra maneira e me rendeu muitos insights (que também renderam poesias e reflexões como esta).
Desde então, repito essa pergunta todas às vezes em que a dúvida aparece. Em todos os momentos em que começo a duvidar de mim, da minha capacidade, dos meus talentos, quando começo a menosprezar todo meu esforço e a me comparar com os outros.
Entendi que essa pergunta tem raízes mais profundas e o motivo de ter me paralisado foi porque ela acertou bem onde causa desconforto: no medo. Sabe por que a gente não acredita que nossos planos podem dar certo? Porque a gente tem medo. Medo do sucesso, medo do “lado bom” e da “recompensa” do nosso esforço. A gente sente medo da grandiosidade de nós mesmos, porque quando as coisas dão certo é até estranho sentir um pouquinho de orgulho de nós mesmos, não é? Não é sempre que a gente se elogia ou se enaltece. Sempre soa como egocentrismo.
As coisas boas estão diretamente atreladas ao medo porque em algum momento de nossas vidas nos fizeram acreditar que não as merecemos. Que a “recompensa” só vem se houver muito esforço, que trabalho de verdade é aquele onde o suor pinga, que para sentir o aroma longínquo da felicidade você precisa ter sofrido muito. E isso, caro leitor, cara leitora, é algo muito além do que cabe nesta reflexão. Isso está enraizado na sociedade, é cultura, é estrutural.
Algumas pessoas ganham muito com nosso medo, com essa crença de que não merecemos algo bom, que a felicidade é algo distante. Quando você se odeia, quando acredita que o que você produz não tem valor, quando você deixa de fazer algo… a sociedade ganha a chance de manipular você mais um pouco. A sociedade se alimenta do nosso medo, da nossa insegurança. Porque pessoas inseguras estão facilmente suscetíveis a acreditar naquilo que dizem sobre elas. E, vamos combinar, que raramente escutamos algo bom a nosso respeito. E eu digo isso com propriedade, infelizmente.
Cresci ouvindo coisas horríveis sobre mim mesma e isso resultou numa vida repleta de sonhos que joguei fora, planos que deixei para depois e nunca mais pensei a respeito. Ouvir coisas ruins sobre mim e sobre o que faço resultou na luta diária contra a insegurança, a ansiedade, a depressão. Todos os dias preciso me lembrar que tenho valor, mesmo que as pessoas que amo nunca tenham enxergado isso. Hoje, quando escrevo isso para você, também é para mim.
Sabe de uma coisa? Tudo o que sempre quis, e você também, é que as coisas deem certo. Tudo o que você quer é celebrar uma conquista porque só você sabe o quão difícil foi chegar até ali. Só queremos celebrar que algo deu certo.
Então, para não me prolongar ainda mais (e acredite que precisei encurtar muito isso aqui), vou te propor uma coisa. Durante um dia — só um diazinho — se comprometa a acreditar em você. Se proponha a não acreditar que tudo vai dar errado. Escolha com consciência e presença a acreditar que vai dar certo. O que quer que seja, dos planos mais simples aos sonhos mais loucos. Vamos lá, se comprometa a somente um dia para acreditar. Quando a dúvida surgir, manda ela embora. E repete que as coisas vão dar certo. Que elas já deram certo.
Não sei se você acredita nisso ou não, mas eu acredito que existe muito poder nas palavras, principalmente naquelas que dizemos sobre nós mesmos. Sei que não é fácil mudar padrões e hábitos ruins porque eles são confortáveis demais e mudar exige comprometimento e coragem, mas te peço que faça isso só por um dia. Só para sentir como é, e quem sabe você repita isso em outros dias até que em algum momento se torne natural.
Fica aqui uma recomendação que me faz muito bem e acredito que possa te fazer bem também. Sabe essa pergunta do título? Responda!
Não precisa ser para mim, mas adorarei ler se quiser. Quero que pegue uma folha qualquer ou um caderno e simplesmente escreva. Escreva o que você sente quando imagina as coisas dando certo e o motivo de ser tão difícil para você acreditar nisso.
Talvez acreditar que as coisas podem dar certo já seja as coisas dando certo.